Depois de tanto caminhar em Torres del Paine, tudo o que precisávamos era descansar e colocar nossas coisas em ordem; uma vez que saímos de lá sem nada de comida, com muita roupa suja para lavar e o carro imundo por conta das estradas de ripio. Sendo assim, decidimos que ficaríamos parados por uns dois dias antes de seguir em frente. A fronteira Chile/ Argentina dessa vez nos tomou muito tempo, enfrentamos uma fila de quase três horas para entrar em terras Argentinas e isso justamente num dia em que não tínhamos nenhuma provisão de água nem de comida! O caminho até a próxima cidade - El Calafate - ainda seria longo, mas acabamos passando por um pueblo que salvou o dia.
Compramos em um almacén pão e queijo caseiros e tortas fritas típicas e essa acabou sendo uma das melhores refeições do mundo. Já em El Calafate acabamos passando a noite em uma pracinha para no dia seguinte nos hospedarmos em um camping e colocar a vida em ordem. Ter uma estrutura para banho, cozinhar e arrumar nossas coisas de vez em quando é importante, ficar muitos dias numa rotina "bagunçada" acaba nos estressando e cansando. A cidade de El Calafate é muito charmosa e bem voltada para o turismo, uma vez que milhares de pessoas passam por aqui em busca do famoso glaciar Perito Moreno. Isso faz com que os preços não sejam nada atrativos, mas acabamos nos dando de presente em uma noite parar em um café e desfrutar de um delicioso sorvete artesanal e um cheesecake de calafate, a fruta típica da região. Foi divino!
Depois de descansar por dois dias no camping, finalmente fomos conhecer o famoso Parque Nacional los Glaciares, onde fica o famoso Perito Moreno. O parque é muito bem organizado e muito cheio de turistas, o que acabou nos frustrando um pouco pois faz com que a beleza do glaciar perca seu lado natural. Para observar o Perito Moreno foram montadas passarelas de metal onde se aglomeram centenas de pessoas à espera dos grandes desprendimentos de gelo que acontecem com frequência. Esse é um dos maiores glaciares do mundo e o único que se desloca continuamente, o que resulta em grandes rupturas que encantam por sua beleza e estrondos que lembram trovões. Acabamos ficando pouco tempo ali no burburinho turístico e seguimos para a área de picnic do parque, mais tranquila e agradável, em meio à natureza. Dali seguiríamos para o outro lado do Parque Nacional, já na cidadezinha de El Chaltén e onde fica o conhecido Monte Fitz Roy.
O caminho até El Chaltén tem quase 300 km a partir de Calafate e é uma estrada lindíssima, uma das mais bonitas que já passamos, com vegetação de estepe em cores amarela e cinza e a imponente cordilheira dos Andes ao fundo, já mostrando o grande Fitz Roy, que se destaca por ser diferente das demais montanhas da região. A cidadezinha tem uma atmosfera tranquila e reúne os amantes do trekking e escalada e possui uma boa estrutura para quem está em motorhome ou mochilando. Inúmeros hostels, restaurantes, campings, lavanderias e mercadinhos trazem bastante conforto para quem quer ficar por ali. Fizemos alguns passeios por trilhas que nos levaram a uma linda lagoa e ao mirador do Monte Fitz Roy, além de uma cachoeira bem bonita.
Foram dois dias bem tranquilos nesse pequeno oásis e dali seguimos ao norte, agora dirigindo pela surpreendente Ruta 40, que tem nos encantado com suas paisagens e curvas e a boa notícia é que parte dela agora está asfaltada. No entanto, decidimos nos afastar do conforto do asfalto para conhecer uma região bem bonita, que interliga os pueblos de Rio Pico, Corcovado e Trevellin. Ali há alguns lagos em meio a montanhas que impressionam por suas águas transparentes. Pudemos fazer um camping selvagem em uma lagoa e desfrutamos de um céu estrelado e uma lagoa imensa só para a gente. Gostamos muito de fazer camping livre pois é sempre uma oportunidade de estarmos mais conectados ao ambiente ao nosso redor. Saímos desse trecho com poeira até nos ossos e fomos obrigados a fazer uma "parada de emergência" em Esquel para limpar o carro e tirar um pouco da sujeira.
É uma pena que em muitos lugares as estradas de ripio tornem a viagem mais difícil. Dali seria possível ainda conhecer mais um pouco dos lagos Patagônicos mas acabamos optando por seguir pela estrada asfaltada e parar em El Bolson, que se mostrou uma grata surpresa. A cidadezinha tem em seu entorno uma quantidade enorme de atrativos naturais e estava cheia de pessoas passando férias. Foi bem gostoso conhecer um pouco das belezas naturais e da cultura local. À noite, na rua principal da cidade, havia muitos artistas de rua e foi uma boa oportunidade para o Plácido fazer uma performance musical junto com um argentino. A parceria rendeu um show de rua que atraiu o público e ainda rendeu um dinheirinho.
Agora estamos em Bariloche, hospedados na escola do DeRose Method de nossa amiga Daniela Massa, que nos recebeu com todo o carinho em seu bed and breakfast. Estamos felizes por novamente encontrar com nossos colegas de profissão que sempre nos fazem nos sentirmos em casa.